Sou travesti mas nem por isso tenho que ser feminina
- Tulipa
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Travesti: A performatividade da travestilidade
Travesti é algo que pode confundir muitas pessoas ainda hoje. O que é “ser travesti”? O que é ser “transexual”? Qual a diferença entre uma e outra? Tem diferença?
Como já disse Rosa Luz, travesti preta militante babadeira de Brasília, a palavra travesti, dependendo do tempo e do contexto que se é inserida, pode ter muitos significados.
A origem da palavra está atrelada a ideia de se “travestir” de algo e que não necessariamente reflita a sua existência ou sua identidade como um todo. Então, a gente pode ligar esse significado de origem com as figuras que temos hoje, como as crossdressers e as dragqueens.
E vale lembrar que, a palavra travesti, está ligada também a uma origem latino-americana, ou seja, em muitos outros países como os Estados Unidos e alguns países da Europa, a palavra travesti está ligada também com sua respectiva origem como podemos observar no filme The Rocky Horror Picture Show (um cientista travesti com pernas de parar o trânsito e uma criação “à la Frankenstein” de cabelo louro, músculos e bronze de surfista), mas que essa figura não está ligado a se reivindicar como mulher.
No Brasil
Houve um tempo em que a palavra travesti estava ligada a prostituição. Só que, conforme o tempo vai passando e as coisas vão mudando, se adequando e se desconstruindo, essas palavras podem ter alterações no seu significado.
Então, a partir disso, dessa mudança, dessa ressignificação, a palavra travesti hoje está ligada a uma identidade de gênero que é sinônimo de mulheridade. Do ser “mulher”.
E o que se presa hoje, a partir da diferença entre transexuais e travestis é a auto identificação. Todavia, hoje temos travestis que não se reivindicam nem como homens nem como mulheres – às vezes, fluindo entre esses gêneros e tudo mais.
Então essa parte da ressignificação da palavra travesti através da cultura de diversos países e o tempo que a mesma é aplicada, muitas vezes contribui para a ignorância de algumas pessoas acerca do “ser travesti”.
Resultando sempre em episódios de transfobia. Como, por exemplo, tratar travestis como “o travesti” e não A TRAVESTI.
Temos que lembrar de nos desconstruir para não gerar desconforto em ninguém. E claro, questionar, já que nem toda travesti parte de um sinônimo de mulheridade.
Mas o que tudo isso tem a ver com a performatividade da travestilidade?
Isso quer dizer que se reivindicar travesti está muito além de performar estereótipos de mulheridade e feminilidade ligados ao “ser travesti”. Como usar roupas e outros signos ligados a mulheridade e feminilidade. Como N coisas da cor rosa, cosméticos e maquiagens. Jóias ou acessórios.
“Partimos do pressuposto de que ser travesti, ou qualquer outra identidade de gênero, é no âmbito exclusivo de se auto identificar sendo TRAVESTI, TRANSGÊNERO OU TRANSSEXUAL”.
Logo, precisamos desconstruir essa ideia de que travesti é sinônimo de mulheridade. Não é exclusivamente uma identidade de gênero feminina, mas uma identidade como as outras. Que entram N questões de ser, se autoidentificar e performar.
Na dúvida, questione. Pergunte qual o nome da pessoa, o pronome que ela gostaria de ser tratada. Não gere desconforto para você nem para a travesti da qual você está conversando.
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Cecília DellaCroix
Travesti, Drag Queen, Artista, Periférica e Afro-transfeminista
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