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Relacionamento abusivo
Relacionamento abusivo não é um monstro X uma pessoa santa
Relacionamento abusivo é aquilo que te tira do teu eixo. É o que te deixa completamente transtornada e faz você duvidar da sua própria sombra. Faz você perder todas as suas convicções e gostos pela vida.
É o que te suga a ponto de você não saber mais quem é você e quem é a parceira. Ou se você é algo válido além do seu relacionamento.
Pra cada vez que eu tive um ataque de ciúmes teve um momento em que traí. Pra cada momento em que me senti um lixo descartável, houveram portas que eu abri permitindo que entrasse e me desrespeitasse. Me tratasse feito lixo.
O abuso se dá na medida em que o casal joga com papéis e contra-papéis.
As crises de pânico funcionavam de um lado porque do outro havia alguém que ficava com o coração na boca, temendo o pior.
Hoje assisti vídeos de um momento muito sombrio da minha vida e quase não me reconheci. É vergonhoso me ver completamente doente, obcecada e transtornada, sofrendo uma dor de amor torto e abstinência por uma mulher que claramente me feriu sem pudor ou ressalvas.
Somos eternos sobreviventes das nossas dores e não podemos, nem por um milésimo de segundo, deixar que alguém pareça ser mais importante ou especial do que as nossas próprias histórias.
É um universo extremamente caótico e sem perspectivas. Me vejo no vídeo no fundo do poço e sinto alívio por pensar que acabou e eu sobrevivi.
“Eu te amo e te odeio pra caralho!”Na época do desespero, procurei por ajuda em missas, centros kardecistas que prometiam a “desobcessão espiritual”, rodas de umbanda, Dependentes do Amor e Sexo (DASA), Mulheres que Amam Demais (MADA), livros de auto ajuda, 2 terapeutas acompanhando todo o processo, remédios com o psiquiatra, ajuda de amigos da minha faculdade; onde cheguei a falar abertamente com uma professora a respeito de talvez perder aulas pois cogitei me internar.
Baralho cigano, vídeos motivacionais, constelação familiar e simplesmente falar sobre toda essa angústia, desespero, depressão e ansiedade que eu sentia com todas as pessoas. Simplesmente todas que cruzavam o meu caminho. E isso só me manteve mais obcecada e tendo crises.
Seria melhor me fechar? De maneira alguma!
Passei muito desespero, principalmente por buscar soluções rápidas. Queria tudo pra ontem. Queria simplesmente me desencantar, perder a paixão que se tornou extremamente doentia.
E quanto mais eu buscava, menos eu respeitava a minha dor e mais seguia os impulsos de ir atrás de alguém que acabou com a minha auto estima e amor próprio. PORQUE EU PERMITI, que fique claro.
É tudo uma grande questão de se conhecer, saber os seus limites e principalmente, se diferenciar numa relação. Porque aí quando você se perde no outro, você tem um norte e parâmetros de para onde voltar.
A caminhada é sem previsão de fim ou chegada. Não existe vencer na vida ou no amor. Existem processos, existe aceitação, cura, perdão. Existem respostas novas.
Existe a intuição. A tão mística e esquecida intuição. Não quero comparar a minha dor com a de ninguém, mas quero compartilhar que eu sei o que é estar completamente devastada, sem dignidade e sem esperanças.
Eu sei o que é se rebaixar e perder completamente toda honra e orgulho por conta de um relacionamento. E está tudo bem. Nossa geração quer tudo pra ontem e quer mais. Mais, mais e mais. E nos doamos desmedidamente.
Saltamos sem ter certeza do tamanho da queda, nos entregamos tanto a ponto de descobrir sentimentos e atitudes que nem sabíamos que existiam dentro de nós.
Existem quatro grandes estruturas que fundamentam um relacionamento amoroso pleno. Geralmente, as pessoas se unem nesta ordem:
Sexo. Erotismo. Atração. Carnal. Desejo.
Gosto é sim uma construção social. Mas a manifestação da sexualidade é intrínseca ao ser humano e numa sociedade que cultua cada vez mais ao corpo e ao erógeno, é extremamente comum vivermos de relações de Tinder, pingando por pessoas e pessoas numa busca pela realização da sexualidade.
Que fique claro: é o mais socialmente cultivado, não é uma generalização. Existem pessoas que não sentem necessidade de estabelecerem uma conexão sexual para se relacionarem. E tá tudo bem!
Amizade. Companheirismo, compreensão, acolhimento.
Existem muitos relacionamentos amorosos cujo erotismo já se esgotou mas que a amizade e o vínculo de companheirismo é tão forte que as pessoas sentem que vale a pena manter. E claro, entra aqui também a questão do comodismo.
Mas fato é: depois de uma paixão intensa e quando a descoberta de prazeres através dos corpos deixam de ser novidade, muito provavelmente criou-se aqui um espaço para enxergar genuinamente a outra pessoa, além do tesão que ela nos evoca.
Aqui começa de fato um interesse por afinidades que vão para além do carnal. Aqui há uma busca por confiança, carinho, acolhimento sem julgamentos, compreensão das pessoas ao invés de expectativas para que ambas mudem.
Projetos de Vida
Se queremos viver um relacionamento pleno e intenso com alguém, começamos a visualizar e realizar planos. E inclusive, abdicamos de nossos próprios desejos ou tentamos adaptar o que seria parte da nossa trajetória individual, agora pensando na trajetória do casal.
Este é um dos eixos mais estruturantes e perigosos do amor pleno. Porquê aqui corremos o risco de idealizar as pessoas. E pior: de abrirmos mão dos nossos próprios projetos de vida.
Quantos casais nós vemos por aí, onde uma das pessoas quer muito ter filhos e a outra está determinada a não ter filhos. E eles continuam juntos e simplesmente não falam sobre isso, vão postergando e ignorando uma questão fundante para ambos até que se tenha uma crise.
As pessoas se juntam sem entrar num consenso e criando expectativas de que POR AMOR ao outro, aquela pessoa mudará seus ideais.
Isto é extremamente comum e é insano o quanto as pessoas simplesmente não tocam no assunto e adiam um momento que é extremamente decisivo para a vida conjugal. Temos o mesmo efeito em relação às pessoas não-monogâmicas e as que não abrem mão da monogamia, por exemplo.
Valores. Somos criados em culturas extremamente distintas embora sejamos todos seres de uma mesma sociedade. Eu, por exemplo, acredito que sozinho ninguém chega a lugar nenhum. E conheço muita gente que acredita em meritocracia e vê as próprias vitórias como conquistas individuais. E conviver com o amor da sua vida, tendo uma cultura de valores tão diferente é extremamente nocivo.
E o pior é que mesmo assim a gente se submete. Se engana e tenta experimentar, pra “ver no que vai dar”. Como se fôssemos robozinhos que tem absoluto poder e controle sob os nossos próprios sentimentos.
E embora os valores sejam, possivelmente, o que se mais tem a capacidade de mudar, é o valor aqui que estrutura um relacionamento saudável. Tanto os “de berço”, que aprendemos com x parceirx quanto o valor que o relacionamento em si ganha na vida de ambos. Não podemos aceitar um relacionamento que não te valorize enquanto pessoa, enquanto companhia, enquanto alguém que te deu suporte e apoio.
O valor aqui é para tudo: o prazer que a pessoa te evoca, a sua companhia e amizade, os planos de vida que vocês querem construir e para todas as lições que ela te trouxe e ensinou.
Volto agora ao ponto central: é preciso muito auto conhecimento e LIMITES a partir destas perspectivas para que a gente vivencie um verdadeiro amor.
A partir do momento que eu me amo, me cuido e me estabeleço limites de onde eu estou disponível tanto sexualmente, amorosamente, o quanto quero abrir mão da minha cultura, dos meus projetos de vida, aí sim, eu estou de fato pronta para um relacionamento amoroso, com responsabilidade e cuidado com ambas.
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